O humorista Marcelo Adnet foi alvo de ataques nas redes sociais após revelar ter sofrido abusos sexuais na infância, em entrevista a edição desta semana da revista Veja.
Os agressores de Adnet alegaram que ele quis se vitimizar e aparecer com as declarações. Uma das ofensas foi realizada por um funcionário da Marinha do Brasil. O que fez o órgão se posicionar publicamente e abrir procedimento interno para investigar o caso. Pelo twitter, Adnet agradeceu à rápida resposta da instituição. Houve ainda muitos xingamentos homofóbicos, como “viado”, “boiola” e “baitola”.
Mas Adnet também recebeu apoio de muitas pessoas. Elas exaltaram a coragem do artista em se expor para alertar sobre os casos de abuso sexual de menores.
”Existe uma engrenagem que apoia a cultura do assédio sexual e do estupro e essa cadeia sempre desmerece a vítima. Recebi muitas mensagens de carinho e de apoio inclusive de homens afirmando que também foram vítimas de abuso. E isso ameaça os abusadores”, disse ao site da Veja.
O comediante garantiu que vai tomar medidas jurídicas contra os ataques virtuais.
Entrevista à Veja
Entrevistado da tradicional sessão de páginas amarelas da Veja desta semana, Adnet foi indagado sobre as duas vezes em que foi flagrado em casos extraconjugais. Primeiro, com a ex-esposa, Dani Calabresa, e depois com a atual companheira, Patrícia Cardoso.
“Não costumo falar da minha vida pessoal, mas me vi obrigado agora. Foram situações completamente diferentes. Desta vez, tanto eu como minha atual mulher saímos com outras pessoas no período em que estivemos separados. Uma delas, com quem eu saí, decidiu trazer a história a público. Não considero isso uma notícia”.
Machismo
A reportagem insistiu e perguntou como Adnet se sentia ao ser taxado de machista nesses episódios.
“Como grande parte dos brasileiros, fui educado com base em padrões que hoje não são mais aceitos. É claro que já devo ter sido machista, mas acredito que muito menos do que a média. E isso, certamente, tem a ver com traumas que sofri”.
Abusos sexuais
Adnet então foi perguntado sobre quais traumas eram esses.
“Fui abusado sexualmente duas vezes, aos 7 e aos 11 anos. Na primeira, nem sabia o que era sexo. O caseiro do lugar onde eu passava férias começou a se aproximar e a pedir favores. Ele me chantageava dizendo que, se contasse algo a qualquer pessoa, meu cachorro morreria. Eu era muito ingênuo. Um dia, quando só estávamos eu e ele em casa, foi para cima de mim. Senti uma dor imensa, mas durou pouco porque meus parentes, que tinham ido ao mercado, voltaram para buscar a carteira. Mais tarde, o pesadelo se repetiu com um amigo mais velho da família. Ele não chegou a consumar o ato, como o caseiro, mas me beijou e passou a mão no meu corpo. Foram dois episódios difíceis.”
A reportagem da Veja quis saber porque Adnet não falou publicamente antes sobre os abusos.
“Para se ter uma ideia, só depois da morte desse conhecido da casa, há cerca de dez anos, consegui contar à minha família. Hoje, já falo de maneira natural porque entendi, após anos de análise, que o constrangimento não é meu, e sim de quem me abusou. O que fica disso é o susto, o trauma, a desconfiança”.